sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pai...

Poderia encher esta folha com palavras bonitas e rebuscadas.
Colocar aqui rimas em estrofes cadenciadas por um ritmo que oferecesse uma sonoridade suave ou uma estética mais adequada. Talvez pudesse imaginar uma construção com as frases colocadas no papel de tal forma que surgisse uma figura ou quem sabe algo que sugerisse movimento...

Mas quero algo simples... Quero lembrar dos dias em que ele chegava cansado e ainda assim tinha um tempinho para mim... Naquela época eu não entendia... hoje sei o que é um dia de trabalho...
Do lanche naquele lugar em que parávamos aos sábados e domingos, hoje eu entendo porque ele sempre pedia o menor mesmo parecendo que estava com fome... hoje sei o custo de algo...
Da ida aos parques e de que quando ele voltava e estávamos cansados, ainda assim ele trocava de roupa e continuava a executar alguma tarefa em casa... apesar da minha crítica... hoje sei da urgência da vida...
Das vezes em que ele programava algo e ficava feliz com a simplicidade das suas sugestões e depois entristecia quando deixávamos sua idéia de lado...
De como ele ficava encantado com as coisas que para mim são hoje tão simples... e como eu entendi isto quando comprei uma TV nova com um controle cheio de botões...
Lembro de como ele sorria quando achávamos graça nas mesmas piadas, contadas há tantos anos... hoje vejo o quanto é difícil atualizar-se sobre qualquer coisa...
De como ele ficava rodando e não fazia nada quando estava doente, e seu olhar de terror em direção à minha mãe...
De como ele era desajeitado com coisas tão simples... mas hoje vejo o quanto ele era tão bom em outras coisas...
Como ele ficava triste quando discutia com sua mulher e eu queria puni-lo por isto... hoje entendo que não sabemos nada mesmo...
Hoje quero apenas lembrar... de momentos que para mim eram incompreensíveis e que hoje fazem parte da minha realidade...
Na história dele não existem rimas e o ritmo é próprio; não existe muita poesia, só realidade... muitas vezes sem uma estética ou construção rebuscada... a verdade é que me parece tudo muito simples.
Sua história tem uma estética própria... e hoje eu entendo...
E quanto mais eu posso olhar para esta história do jeito que ela é mais eu me aproximo de quem ele é, foi e será... e assim escrevo e aceito a minha própria história...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os pais são culpados que não tem culpa...

Os pais são culpados que não tem culpa...

Há anos venho proferindo esta frase dentro dos treinamentos que faço, e posso dizer com certeza que num primeiro contato às vezes o seu efeito é pequeno.
Porém na medida em que ela vai sendo repetida e vivida dentro de cada um seu efeito pode ser transformador.
Como seres humanos acabamos por criar conflitos que muitas vezes podem se tornar enormes ao longo do tempo.

Tenho verificado que na maioria das vezes estes conflitos acabam nascendo a partir daquilo que tomamos não como real, mas como ideal.

Às vezes este ideal talvez nem seja nosso, por vezes se expressando mais como um fardo do que como algo bom.

Esta é uma situação muito comum entre pais e filhos.
Nem sempre os nossos pais serão aqueles que projetamos e muito menos os nossos filhos e nem assim eles deixam de ser nossos pais e tampouco nós de sermos seus filhos.
Existem inúmeras exigências que vem da nossa própria família e as vezes nos submetemos a elas apenas pelo medo da exclusão.

Quantos filhos seguem a profissão, religião, ou até mesmo uma forma de pensar, sentir e viver dos seus pais apenas por este medo.

O medo de não pertencer acaba por fazer com que os caminhos seguidos nem sempre sejam aqueles que gostaríamos ou sentíssemos necessários.

Se isto acontece com os filhos em relação aos seus pais, sem duvida haverá um dia em que este caminho se tornara insustentável.

Ao mesmo tempo acontece um movimento por parte dos filhos que gera um desagravo em relação aos seus pais.

Todas as pessoas acabam por desenvolver o seu próprio senso critico, algo que acontece desde a nossa primeira infância e que ao mesmo tempo que é necessário e importante acaba sendo também extremamente cruel em relação não somente ao mundo e às pessoas que estão ao nosso redor mas principalmente os nossos pais.

O olhar para os pais se fragmenta, de um lado o olhar respeitoso que está relacionado ao sagrado na relação entre pais e filhos do outro aquele extremamente moral que julga a tudo e a todos segundo aquilo que seria importante para cada um de nós.

Este olhar moralista, entendendo aqui moral sobre um ponto de vista mais amplo, julga o ato de todas as pessoas as pessoas segundo os conceitos do certo e errado, belo e feio, bom e mau, e ninguém escapa, inclusive os nossos pais.
Temos além destes dois tipos de olhar um muitas vezes observado e que acaba sendo mais severo conosco e com o pai e a mãe.

O da obrigação, sustentado pelo respeito, que aqui surge mais como uma obrigação, contaminado pela moral extremada, fruto da nossa forma de olhar o mundo.

Desta forma este olhar singular acaba por gerar um distanciamento, pois de alguma maneira queremos deles algo que eles não podem nos oferecer.

Aquilo que está ligado ao que entendemos como ideal, que de certa forma exigimos dos outros acaba então por gerar uma pressão e uma tensão enorme em direção aos nossos pais.

O que às vezes não se entende é que eles já estão dando, assim como nós tudo aquilo que podem dar.

E nesta tentativa de ter do outro aquilo que ele não pode dar nos frustramos e sofremos, e este fenômeno acontece com qualquer pessoa a nossa volta, mas tem um impacto muito maior quando vai em direção a eles.

O vinculo acaba assim por potencializar a dor e o sofrimento, gerando seqüelas que um dia deverão de alguma forma serem levadas em conta, vistas, e quem sabe trabalhadas.

Este movimento acaba por influenciar não apenas o nosso relacionamento com eles (nossos pais), mas o de toda a família.

É muito comum que nesta hora se quebre a ordem e a hierarquia dentro da família, onde cada uma começa a assumir um lugar que não é o seu.

Basta que possamos agora imaginar um filho que acha (olhar distorcido) que seu pai ou mãe não está fazendo o que deveria, procurando então assumir uma postura de ação sobre cada um em separado e ou em conjunto.

Aqui cabe bem uma outra frase que percebo cada vez mais verdadeira:
“Se você tentar ocupar um lugar que não é o seu... você nunca será o outro e tampouco a sombra de quem você poderia ser...”

Imagine viver em uma condição onde você precisa provar a todo custo a alguém (consciente ou inconscientemente) que há outra saída que não a que vem sendo utilizada.

Dor, frustração e acima de tudo uma sensação de vazio.

Um processo que eu acho maravilhoso e que pode nos auxiliar muito neste sentido é o das constelações familiares, se quiser saber mais entre no link, e da próxima vez que você olhar para os seus pais leve isto em consideração.

José Carlos O. Froes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Começo, meio e fim...

Começo, meio e fim...

Pensar na vida com algo puramente linear é como pensar em uma biblioteca onde as informações contidas devem seguir necessariamente uma ordem de prioridade.

O que vem antes é mais ou menos importante do que vem depois? O hoje é mais importante do que o ontem ou é apenas uma parte de algo que ajuda a escrever o amanhã.

O que será escrito amanhã terá mais relevância do que aquilo que foi ditado no dia anterior?

Percebemos que na medida em que as questões se sucedem mais duvidas vão surgindo e a única certeza que temos é a de que tudo de alguma forma está ligado.

Minha carreira teve o seu inicio na engenharia e como bom mecânico eu sei que o modelo do veiculo mais avançado que hoje conhecemos tem suas raízes nos antigos modelos a vapor.

Não haveria tanta tecnologia hoje se não acumulássemos conhecimento e experiência, e é desta forma que entendo que em nossa trajetória pessoal tudo conta.

O ontem e o hoje certamente são determinantes tanto para o fracasso quanto para o sucesso do que buscamos encontrar.

Mas como escrever o hoje e aproveitar o que aprendemos ontem para um amanhã melhor se não nos sentimos bem para isto ou mesmo que não tenhamos direito.

Encontraremos muitos relatos sobre isto principalmente de pessoas que perderam o animo, palavra que na sua raiz tem a ver com vontade, intenção, animus, espírito, presença de espírito.

Percebemos então que todo este movimento de escrever um novo amanhã tem a ver com algo que vem de dentro.

Esta questão nos coloca subitamente em uma duvida sobre: Para que?

Sim, para que? Para que escrever um bom amanhã? Para que trabalhar por um futuro melhor? E outras questões rapidamente se emendam a estas: Para que tudo isto? Para que?
E por fim uma questão ainda maior: Para que serve a vida?

Sim, pois desde que o homem é homem esta talvez seja uma das grandes questões que ficam sempre sem uma resposta que seja unanimamente correta ou aceita.

Se colocarmos a vida em uma questão puramente mecanicista sua graça está apenas no funcionamento do próprio corpo.

Ou seja, levantar comer e trabalhar, comer novamente no meio do dia e trabalhar e ao final do dia ao encerrar as atividades se preparar para comer novamente, descansar e voltar ao mesmo ciclo no dia seguinte.

Não se discute a beleza da mecânica do corpo, tampouco sua perfeição em transformar alimento em energia, ou até mesmo a recomposição da matéria dia após dia.

O que sempre se questiona é o fim, de forma que todo o mecanismo seja colocado de lado.

Como bom mecânico entendo que por mais simples que seja um organismo ou uma criação, ele serve a um fim.

E qual seria então o nosso fim? Para que serviríamos afinal?

Não há nenhuma resposta lógica aqui fora, qualquer resposta que venha a ser dada é de fato a expressão de um conjunto de crenças e valores que não pode e nem deve ser desprezada, visto que esta resposta mudará com o tempo, mas é certo que ela nasce dentro e nunca fora.

O amor e a vontade de viver são inerentes ao ser humano, é algo forte desde que nascemos e ligado principalmente ao nosso instinto de preservação.

Quando se deixa de lado tudo isto que é importante ou o que nos preserva, este é um sinal de que estamos doentes e, portanto necessário que olhemos para o momento onde isto deixa de atuar.

Aqui o ontem se torna determinante para entendermos o que se transformou, porque e para que.

Não é possível acreditar que alguém deixe de lado coisas importantes como estas, ou faça isto apenas como um movimento de prazer, talvez este seja acima de tudo um grito silencioso de dor, de alguém que busca uma preservação ilusória.

A investigação passa então de necessária à primordial, de forma que por vezes apenas o reconhecimento do fato gerador já seja suficiente para que se possa tomar novamente a vida como algo bom e que mereça ser valorizada e preservada.

Os mecanismos para isto são os mais variados, desde que ofereçam esta possibilidade àquele que as busca.

A vida passa então a ser mais do que um movimento mecânico apenas, ou seja, retomam-se assim todos os valores ligados a ela, e que por gerações tem estado presentes na humanidade nos colocando em pé de igualdade e lado a lado com o nosso semelhante.

Desta maneira o ontem, o hoje e o amanhã se alinham de uma forma diferente da qual estamos acostumados a olhar para o mundo, não de uma forma linear, mas talvez como em um holograma, uma espécie de registro vivo que atua o tempo todo e em todas as direções.

José Carlos Froes

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um quinhão ou um milhão?

As vezes fico pensando de que forma as pessoas se avaliam, o quanto as vezes se deixam levar pelos mascates da vida, que oferecem um quinhão naquilo que vale um milhão.
A metáfora que quero compartilhar fala sobre isto.. o valor que nos é dado.
Que seja de bom proveito.
José Carlos Froes



O Anel

Venho aqui, professor, porque me sinto tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?
O professor sem olhá-lo, disse:
- Sinto muito meu jovem, mas não posso te ajudar, devo primeiro resolver meu próprio problema. Talvez depois.
E fazendo uma pausa falou:
- Se você me ajudasse, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois talvez possa te ajudar.
- C...Claro, professor - gaguejou o jovem. Mas se sentiu outra vez desvalorizado e hesitou em ajudar seu professor.
O professor tirou um anel que usava no dedo pequeno e deu ao garoto e disse:
- Monte no cavalo e vá até o mercado. Devo vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo possível, mas não aceite menos que uma moeda de ouro. Vá e volte com a moeda o mais rápido possível.
O jovem pegou o anel e partiu. Mal chegou ao mercado começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel. Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros saiam sem ao menos olhar para ele.
Só um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.
Depois de oferecer a jóia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso montou no cavalo e voltou. O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, assim livrando a preocupação de seu professor e assim podendo receber ajuda e conselhos.
Entrou na casa e disse:
- Professor, sinto muito, mas foi impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir 2 ou 3 moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do anel.
- Importante, meu jovem - contestou o professor sorridente - devemos saber primeiro o valor do anel. Volte a montar no cavalo e vá até o joalheiro.
Quem melhor para saber o valor exato do anel? Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dá por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda. Volte aqui com meu anel.
O jovem foi até o joalheiro e lhe deu o anel para examinar. O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o anel e disse:
- Diga ao seu professor, se ele quer vender agora, que não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel.
- 58 MOEDAS DE OURO!!! - exclamou o jovem.
- Sim, replicou o joalheiro, eu sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de 70 moedas, mas se a venda é urgente...
O jovem correu emocionado até a casa do professor para contar o que ocorreu.
- Senta - disse o professor. E depois de ouvir tudo que o jovem lhe contou disse:
- Você é como esse anel, uma jóia valiosa e única. E que só pode ser avaliada por um expert. Pensava que qualquer um poderia descobrir o seu verdadeiro valor??? E dizendo isso voltou a colocar o anel no dedo.
- Todos somos como esta jóia. Valiosos e únicos e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem.

"Ninguém pode te fazer sentir inferior sem seu consentimento."

Autor desconhecido

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pedra sobre pedra

Fazer a diferença...
Já ouvimos várias vezes esta frase, mas nem sempre nos damos conta de como podemos fazer a tal diferença.


Talvez uma das grandes dificuldades do ser humano seja a de perceber que para isto não precisamos de algo enorme.


As vezes ficamos pensando em algo grande e desta forma colocamos sem que percebamos uma série de impecilhos neste sentido.


Assim comparo as conquistas; você já percebeu que a grande maioria das pessoas fica pensando apenas nas grandes conquistas e se esquece de que na verdade a maior conquista de todas é apenas um conjunto de pequenas conquistas.

A muralha da China ou a Grande Muralha foi construida durante o período imperial e é considerada uma das novas sete maravilhas do mundo.


Calcula-se que mais de um milhão de homens tenham colaborado na sua construção e que a quantidade de material absorvido fosse suficiente para erguer mais de 120 pirâmides como a de Queóps.

E como alguém pode chegar a uma construção tão gigantesca?
A resposta:
Depositando uma pedra sobre a
outra...

Fico pensando em quantas vezes deixamos de valorizar as pequenas conquistas e pequenas ações e assim acabamos por menosprezar o que de bom estamos construindo.


Uma construção se dá a partir de pequenos movimentos, e as pequenas partes são aquelas que constituem o todo.

Se deixamos de valorizar o pequeno que estimativa teremos do grande?


Nas ações em nada isto é diferente, as vezes deixamos de valorizar pequenas ações e ficamos pensando nas grandes.


E o que são as grandes se não um conjunto de pequenas ações.

Então a pergunta que pode nortear uma forma de agir em relação ao mundo do qual fazemos parte é sempre:

Qual a pequena ação que posso fazer hoje que pode fazer a diferença?


As vezes um sorriso, uma palavra, um aceno...

Não importa o tamanho, importa mas o ato em si...


O ato em si pode mudar tudo.


Mesmo que em algum momento nos venha a dúvida em relação à uma pequena ação, ainda assim ela valerá a pena.

Você já leu em algum lugar que uma ação vale mais do que mil palavras e lá no fundo nós sabemos o quanto esta afirmação é verdadeira.


Portanto podemos tomar isto como um exercicio, e assim medirmos como é fazer diferença.


Desta forma faça a diferença sempre...

Há e este exercicio é pessoal e intransferível.


E saber que no final, além de fazer bem para a nossa alma, o todo se beneficia..


Experimente prestar atenção e se desafia a fazer a diferença...


Faça um exercicio assim hoje...
Um telefone, um sorriso, um aceno, uma palavra... lá dentro nós sabemos o que pode ser feito...
Uma construção... para um mundo melhor... pedra sobre pedra...


Boa construção...

José Carlos Froes

terça-feira, 7 de junho de 2011

Com quem você aprendeu a amarrar o seu sapato?

Já pensou nisto?

Para algumas pessoas já fiz esta pergunta e a resposta é sempre a mesma:
Sei lá, acho que com a minha mãe, ou meu pai!
E a resposta vem sempre seguida de uma pergunta?
Mas porquê você pergunta isto??
A minha resposta é sempre a mesma:
Você pode não saber, ou nem se lembrar, mas é certo que amarra os seus sapatos.
Normalmente quando pergunto isto quero relacionar este tema aos padrões de comportamento.
Não sabemos de onde ele vem, mas o fato é que ele atua.
Se pudermos saber a origem, tudo fica mais fácil.
E é muito comum que na maioria das vezes, assim como o ato de amarrar os sapatos que um padrão se instale na infância.
Por isto é sempre muito bom olharmos para a nossa familia, e para os nosso primeiros anos de vida.
Não que as respostas estejam todas lá, pois claro não podemos correr o risco de generalizarmos nada.
Mas é comum que encontremos respostas para alguns padrões.

Muito dos nossos medos e inseguranças nascem nesta fase e permanecem atuando durante toda nossa vida.

Tem um filme que eu gosto muito e indico a muitas pessoas para que possam refletir sobre isto:
Duas vidas (The Kid)- 2000 - Disney
Ele continua sempre atual... assista, ele pode ser bem enriquecedor...
Há, e da próxima vez que você for amarrar o seu calçado... reflita sobre isto.
José Carlos Froes

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O homem e o fruto....

Um homem extremamente faminto chega a um campo enorme...

Sua fome é muito grande, o campo enorme e durante um tempo ele caminha por este campo até que encontra uma grande árvore carregada de frutos.

Sim ela é imensa... linda e carregada de frutos.

E durante um tempo ele fica ali; embaixo da grande árvore olhando para todos aqueles frutos.

Há muitos frutos... sim são muitos frutos..
No meio de todos ele encontro um que lhe parece muito suculento...
Ele procura em volta e não há pedras ou qualquer outro objeto que pudesse lançar em direção ao fruto... não há uma vara sequer que o ajude a colher o fruto.
De todas as maneiras ele tenta conseguir o fruto que tanto lhe chama a atenção...
Em vão tenta escalar a árvore...

Procura inutilmente balançar aquela enorme árvore com seu grosso tronco... nada... nem um milimetro sequer de movimento... nada.
Ele fica cada vez mais irritado... e no alge da sua irritação grita com a árvore e o fruto...
Ei árvore dê-me este fruto... ainda assim nada!
Vamos fruto venha.. estou com fome... vamos caia já desta arvore... nada

Ainda assim nada acontece... o fruto continua lá impassível...
Não há nada que o ajude....

Ele xinga a árvore e os frutos...
A árvore fica bem tranqüila....
O fruto nem o percebe...
E ele... Cada vez mais irritado

Briga e grita por um longo tempo e ao final senta-se embaixo da frondosa árvore.
Fica ali durante um grande tempo... e depois de muito refletir uma frase lhe vem a cabeça... Afinal ele entende...

Somente quando ele estiver maduro....

Fica durante um tempo a refletir.. e depois segue o seu caminho...

Muitas vezes ficamos exatamente como este homem... agindo e reagindo furiosamente a alguém ou algo que ainda não se encontra maduro o suficiente...
Da próxima vez que for exigir algo de alguém... verifique se a ele este algo já é possivel..

Para refletir...

José Carlos Froes

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ao portador do brilho...


Luminoso.. brilhante
Um dia um homem andava sozinho por uma floresta... seus dias ora eram nublados, ora eram escuros.
Sem uma bussola para indicar-lhe o caminho durante o dia guiava-se pelo sol.
Mas as vezes os dias eram nublados e portante o seu norte por vezes mudava.
A noite ficava atento ao brilho das estrelas e procurava registrar o seu brilho em sua memoria... mas ainda não era suficiente, pois por mais que se encantasse com o seu brilho
e mesmo que elas pudessem de alguma forma demontrar o caminho, o cansaço do dia apagava-lhe da memória a direção...
Caminha sempre a passos largos sem nunca desistir mas na intenção de que um dia alguém pudesse de alguma forma ser o guardião de um brilho, de alguém que iluminasse o seu caminho.
Ficava assim confiando então na sua fé e na crença de que existia um juiz maior que pudesse lhe prover esta luz...
Por varias vezes dizia do seu grande sonho, de que viesse sim alguém que lhe trouxesse este brilho maior...
Um dia nestas andanças uma abelha rainha lhe aparece e assim ele toma do seu nectar....
O mais doce de todos... o nectar do amor... Então aquele que tem fé e que sabe que seu Deus é seu juiz se entrega aos encantos desta rainha...
Juntos decidem construir agora uma estrada por onde possam sentir o brilho que vem deste amor...
E então surge aquele... que iluminará suas vidas oferecendo um caminho mais brilhante...
Um caminho possivel apenas através da força que vem do amor dos dois...

A maternidade e a paternidade nos colocam frente a frente com os sonhos de vida...
Benvinda seja a vida...
Benvindo seja você Lukas... o luminoso, o que brilha...
Parabéns ao meu querido e amado irmão que a vida me deu de presente... Daniel que vem do hebraico e que siginifica aquele cujo Deus é o juiz...
E obrigado à minha querida Debora... que no hebraico denomina a abelha.. aquela que nos adoça a vida com sua presença

A você Lukas querido, que em latim identifica o luminoso, o que brilha...
Que sua vida seja sempre luminosa e brilhante.. que você possa sim; espalhar seu brilho por esta terra...
Com amor...

Froes

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O tempo certo...

Para algumas coisas... o tempo é relativo...

Era uma daquelas tardes quentes, com sol a pino e o mundo vibrando a todo vapor.
Pessoas passavam pelas ruas correndo com seus afazeres teimando em brigar com o relógio que lhes consome os minutos das suas vidas em tarefas aparentemente infindáveis.

Seus olhos e seus ouvidos cheios de movimento, com cores de todos os tons e sons variados.
E apesar de todo este movimento em seu mundo tudo era oco... sem vida... pálido.

Ao chegar em casa revisitou cada objeto, as fotos da viagem que fizeram, sobre a escrivaninha os papeis e o roteiro da viagem que tanto planejaram nos dois últimos anos... conhecer a cidade natal de seus pais... num pais distante que jamais conheceram, mas que sabiam de detalhes contados por eles...

Em cada lugar da casa uma lembrança... as bicicletas encostadas na lavanderia... e as promessas de que este ano voltariam a pedalar juntos.

As roupas estendidas no varal, e o bilhete colado na geladeira com recomendações sobre como cuidar dos vestidos e das camisas...

Ao abrir a geladeira os congelados e o champagne que esperavam por uma oportunidade para serem postos a mesa.

Na sala sobre a estande os filmes da ultima temporada da serie que esperavam por uma oportunidade para serem vistos.

O carnê com as duas ultimas prestações, lembrou-lhe dos sonhos do carro novo.
Percebeu que em cada canto que passava os olhos encontrava um objeto ou uma lembrança de algo que havia sido programado.

Aos poucos aquilo que antes era oco se preenchia com uma lista infindável de coisas que precisavam e queriam fazer...

Chegou no ultimo aposento, o quarto... os perfumes e objetos carregados de imagens e movimento.

Abriu a porta do guarda roupa e as gavetas e escolheu a melhor lingerie... combinando demoradamente as peças...

Em meio a tantas caixas um sapato que nunca fora usado... e protegido por um plástico o lindo vestido preto com uma grande etiqueta colada...

PARA SER USADO EM UMA OCASIÃO MUITO ESPECIAL...

Sabia que era este...! Sim tinha que ser este...! Comprado em uma linda viagem aguardava ali... o momento mais especial da vida dela...

Tomou todos estes objetos colocando-os em uma caixa cuidadosamente arrumada para este fim...

Chamou um taxi.. e ligou para a sua irmã pedindo que o ajudasse...

Sentou-se na cama e refletiu profundamente sobre tudo que deixaram de fazer neste último ano porque achavam que ainda não era o momento...

Despertou de seus pensamentos apenas no primeiro toque do interfone que anunciava a chegada daquele que o levaria... ao encontro da sua amada...

Não sabe ao certo dizer quanto tempo durou este momento...limpou suas lagrimas e foi ao encontro dela... desejando que este dia nunca tivesse chegado... Sabia que teria que encontrar forças para deixar-lhe linda; como sempre fora; para o seu enterro....

José Carlos Froes

terça-feira, 19 de abril de 2011

A porta negra...

A criança e o medo...

Algumas coisas apavoram muito uma criança, e uma delas, explorada em muitas historias e filmes são os montros que vivem no seu imaginário.

Me lembro bem de uma cena de um filme de 1982, Poltergeist o Fenômeno, onde um palhaço no quarto de uma criança o arrastava para debaixo de sua cama.

Qual foi a criança que nunca teve medo de um monstro embaixo de sua cama...?

E a pergunta que fica é:
Quando é que uma criança perde o medo do monstro?

Quando ela olha para o seu medo.


Somente quando olhamos atentamente para aquilo que nos causa medo podemos vencê-lo.

Trazemos o nosso medo para o real.. tiramos ele do imaginário, colocando-o em nossa realidade.

O que é imaginado nos causa muito mais transtornos e confusões do que aquilo que é real.

Quantas vezes postergamos uma resposta por medo da reação do outro e nos entregamos assim a algo que talvez jamais venha a acontecer e sem que percebamos perdemos clientes, amigos, e até mesmo relacionamentos.

Muitas vezes é mais fácil ficar imaginando o que acontecerá e nos identificarmos assim apenas como os aspectos negativos.

A maioria das religiões e filosofias de vida já nos oferecem a muito tempo uma frase espetacular para a qual as vezes não nos atemos... e muitas vezes por este mesmo medo, e sem que venhamos a discutir a forma como é colocada podemos ficar com o conteúdo:
“ A verdade liberta”.

Muitas vezes esta verdade será dura e difícil de ser trabalhada, mas com ela conseguimos avançar nos relacionamentos.

Há uma metáfora com a qual as vezes trabalho que acho bem interessante e que quero agora compartilhar:

O Rei e a Porta Negra

Existia em uma região um Rei muito corajoso que era um grande conquistador e ao mesmo tempo muito polemico pelos seus atos.
Porem nunca permitira o assassinato daqueles cujo reino ele partia em busca de conquista.

Trazia todos os seus prisioneiros ao seu reino e os colocava frente a frente com uma decisão...

Ele os levava um a um ao porão do seu castelo e lá os posicionava no centro da sala, e então o Rei anunciava

- Eu vou dar uma chance para vocês. Olhem para o canto direito da sala.
Ao olharem, os prisioneiros viam os guerreiros mais valorosos do Rei com suas espadas empunhadas e prontos para ação.

- Agora, - continuava o Rei - Olhem para o canto esquerdo.
Ao olharem, todos os presos notavam que havia uma horrível Porta Negra de aspecto gigantesco.

Crânios humanos serviam como decoração e a maçaneta era a mão de um cadáver, toda manchada de sangue.


Algo horripilante só de imaginar, quanto mais de se ver.

O Rei se posicionava no centro da sala e gritava:

- Agora escolham : o que vocês querem ? Morrerem nas mãos destes valorosos guerreiros ou abrirem aquela Porta Negra e enfrentarem o que o destino os reserva? Agora decidam, vocês têm livre arbítrio, escolham....

Todos os prisioneiros tinham o mesmo comportamento: na hora da decisão, eles chegavam perto da horrível Porta Negra de mais de quatro metros de altura, olhavam para os desenhos de caveiras, sangue humano, esqueletos, aspecto infernal, coisas escritas do tipo: "Viva a Morte", além de outras citações relacionadas a morte..e decidiam:


" Prefiro continuar lutando...".

Um a um, todos agiam assim: olhavam para a Porta Negra e para os guerreiros e diziam para o Rei:

- Prefiro morrer lutando...".

Milhares optaram pela luta e pela morte..

Mas, um dia, a guerra acabou e passado algum tempo, um daqueles valorosos guerreiros estava varrendo a enorme sala quando eis que surge o Rei.
O soldado com toda reverência e meio sem jeito, perguntou:
- Sabes, ó grande Rei, eu sempre tive uma curiosidade, e peço que não se zangue com minha pergunta, mas... o que existe além daquela Porta Negra ?


O Rei respondeu :

- Para saber o que há por trás desta porta você deverá fazer a mesma escolha...

- Lembra que eu dava aos prisioneiros duas escolhas ? Pois bem, vá e abra a Porta Negra.

O guerreiro responde ao Rei..

-Meu Rei sou teu fiel súdito e nunca me recusei a um pedido teu... Mas abrir esta Porta me enche de medo...

Me bravo... sou teu Rei e muito embora eu pudesse mandar todos a morte inclusive você acredito que os homens dever ter o direito a uma escolha...

E não acredites em mim e nem tampouco na tua imaginação, acredites em ti... E somente assim poderás abrir esta porta.
Você já enfrentou muitas batalhas, venceu muitos inimigos, és forte e corajoso, e agora se dobrarás a esta Porta?

O guerreiro enchendo-se de força e coragem e mesmo assim trêmulo, virou cautelosamente a maçaneta e sentiu um raio puro de sol beijar o chão feio da enorme sala.

Abriu mais um pouquinho a porta e mais luz e um gostoso cheiro de verde inundaram o local.

O soldado notou que a Porta Negra abria para um caminho que apontava para a grande estrada. Foi aí que ele pode perceber:

A Porta Negra dava para a.... LIBERDADE !!!!!

O medo do desconhecido nos leva sempre para o mesmo fim...
Somente uma nova estrada nos leva a um novo local...
Há.. que tal olhar o quanto antes embaixo da sua cama... pode ser bom...

J. Carlos Froes

quinta-feira, 31 de março de 2011

Relacionamento de Casais..

Tenho a tido a felicidade de trabalhar muito em meu consultório o relacionamento de casais, e este é um dos temas que mais me toca.

E o que mais me toca é saber que no fundo o que se busca em um relacionamento é uma solução que vai alem das fronteiras daquilo que reconhecemos... Quando trabalho um relacionamento de casal olhamos profundamente para as nossas raízes.

Encontramos na maioria das vezes muito mais do que uma exigência de uma parte ou outra, o que encontramos na maioria das vezes é a vontade de satisfazer um desejo, ou apenas de aplacar o medo que sentimos de algo, e na maioria das vezes o de sermos excluídos.

Buscamos na maior parte das vezes uma resposta no lugar errado. O outro é e sempre será um catalisador que nos ajudará em nossa caminhada que é tão solitária em busca de uma reconciliação interna e nunca a resposta em si.

Quando trabalhamos um relacionamento falamos de amor... um amor que muitas vezes pode ser mal direcionado ou mal interpretado.

Prendemos quando queremos liberdade, fechamos uma porta quando queremos uma saída, sofremos quando queremos felicidade.

O amor entre o casal traz em si uma beleza indescritível, algo grande e divino e ao mesmo tempo difícil.

No relacionamento entre um homem e uma mulher há algo de divino, somente através dele podemos gerar a vida...

Quando um casal se encontra e começa a viver um relacionamento na maioria das vezes não se dá conta de que ao olhar para o outro estará olhando também para a sua família e tudo mais o que esta família pode oferecer.... sim quando um homem olha para uma mulher ele olha também para a família desta mulher e vice versa...

E algumas coisas que são válidas na família de um não são válidas na familia do outro, e então na maioria das vezes é ai que nos perdemos, pois queremos algo que para o outro as vezes nem existe, ou é impossível...

Nas brincadeiras de cabo de guerra procura-se o mais forte... e assim alguns relacionamentos são tratados... a busca pelo certo e errado não cabe.

O ideal é que os dois se fortaleçam... e assim a família como um todo...

Um contrato transparente, limpo, onde cada um saiba qual o seu limite seria muito melhor...

Algo para pensarmos.. e gostaria aqui de deixar um texto sobre uma velha lenda Sioux para uma reflexão:


A Águia e o Falcão

Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo.

- Nós nos amamos e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte... e trazê- lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!

Os jovens se abraçaram com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.

O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu eram verdadeiramente formosos exemplares.

- E agora o que faremos? - perguntou o jovem - as matamos e depois bebemos a honra de seu sangue? Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.

- Não! - disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro. Quando as tiver bem amarradas, soltem-nas, para que voem livres.

O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros. A águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.

Foi então que o velho desamarrou os pássaros e disse:

- Jamais esqueçam o que acabaram de ver... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.

J. Carlos Froes

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O monge e o vendedor... Ausência e Presença...

O monge e o vendedor...

Esta parabola foi escrita por Bert Hellinger e sobre ela podemos refletir muito... como sempre acontece com os textos dele, minha sugestão é que você verifique ao final o que sente.

Esta parabola nos fala sobre a discussão entre um mestre e um vendedor.... o que ou quem representa cada um deles talvez seja o ponto de partida.... e depois a forma como cada um vê a vida e tudo mais que nos cerca.... como cada um sente e percebe o todo.

Espero que sua leitura seja produtiva.

J. Carlos Froes


Ausência e Presença (parábola por Bert Hellinger)


Um monge, saindo em busca do Absoluto,

Aproximou-se de um vendedor no mercado

E pediu-lhe comida.



O vendedor observou-o por um momento.

E, dando-lhe o que podia dar,

Perguntou-lhe:

“Como se explica que me peças

O de que precisas para sobreviver

E, mesmo assim, te permites achar a mim e

ao meu negócio.

Coisas insignificantes!

Em comparação contigo e com o que é teu?”


O monge respondeu:

“Em comparação com o Absoluto que procuro,

De fato, tudo o mais parece insignificante.”


O vendedor não ficou satisfeito

E fez outra pergunta:

“Se esse Absoluto existe,

Está além de nosso alcance.

Portanto, como ousar buscá-lo

Como se ele pudesse ser encontrado

No fim de uma longa estrada?

De que modo tomar posse dele

Ou pretender ter dele um quinhão maior?

Ao contrário, se esse Absoluto existe,

Como poderia alguém distanciar-se dele

E ficar excluído de sua vontade e zelo?”


O monge respondeu:

“Somente aqueles que podem despojar-se

De tudo o que lhes pertence

E, de boa vontade, esquecer o que está atado

Ao Aqui-e-Agora,

Alcançarão o Absoluto.”


Não convencido ainda,

O vendedor o pôs à prova com outro raciocínio:

“Presumindo que o Absoluto exista,

Ele deve estar perto de todos,

Embora oculto no aparente e no eterno,

Assim como a Ausência está escondida na Presença,

O Passado e o Futuro no Aqui-e-Agora.

Comparado ao que está Presente

E se nos afigura contingente e fugidio,

O Absoluto parece ilimitado no espaço e no tempo,

Como o Passado e o Futuro

Em comparação como o Aqui-e-Agora.

Mas o que está Ausente só se mostra no Presente,

Como o Passado e o Futuro só se mostram

No Aqui-e-Agora.

Como a Noite e a Morte,

O Absoluto encerra, oculto para nós,

Algo que ainda virá.

Há, porém, momentos em que,

Num piscar de olhos,

O Absoluto ilumina de súbito o Presente,

Como o relâmpago ilumina a noite.

Assim também o Absoluto se aproxima de nós

No atual Aqui

E ilumina o Agora.”


O monge, por seu turno,

Perguntou ao vendedor:

“Se o que dizes é verdade,

Que resta

Para nós dois?”


E o vendedor respondeu:

“Para nós ainda resta,

Mas por pouco tempo,

A Terra.”