quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval... um grande exercício...

Carnaval
Neste final de semana de carnaval participei de uma empreitada que eu diria foi das mais inusitadas.

Participar do desfile da Unidos do Peruche.

A escola vinha de um rebaixamento e contava com a participação de todos os componentes da escola na intenção de voltar ao grupo especial.

Dentre os componentes da escola alguém muito querido que passou por alguns de nossos treinamentos e que nos convidou a compor uma das alas da escola, na verdade ele abriu aos treinandos de nossa empresa uma ala toda.

Quero utilizar este espaço e fazer uma relação entre o trabalho da escola e alguns conceitos que tanto trabalhamos em nossos treinamentos.

Disciplina e Hierarquia.

O quanto foi importante a disciplina de todas as pessoas que participaram do desfile.
Uma dos pontos que mais me impressionou foi o quanto todos nós que participávamos da ala tínhamos que aceitar a acatar as ordens que nos eram passadas sem que ao menos soubéssemos a nossa posição na avenida.

Talvez o unico momento em que tivemos um pequeno acesso ao tamanho da escola foi no dia do ensaio técnico no Sambódromo, no restante do tempo nossa atenção e nosso foco se direcionou apenas ao trabalho da ala.

Nosso trabalho maior foi decorar o samba e ensaiar a coreografia.

Em momento nenhum tínhamos idéia das demais fantasias ou a visão de grupo.
Seguimos a risca aquilo que nos foi passado e confiamos em um líder que sequer conhecemos.

Assim como acontece em uma empresa ou em qualquer trabalho de grupo executa-se uma tarefa de forma focada tendo em consideração que esta parte é importante para o conjunto.

A primeira coreografia ensaiada previa alguns passos que foram retirados já no primeiro ensaio técnico. Tudo isto visava proteger o grupo e as pessoas envolvidas.

Quantas vezes em nosso dia a dia as coisas acontecem do mesmo jeito, somos levados a uma tarefa que sabemos ser parte de algo maior sem que ao menos tenhamos a visão do todo.

Tínhamos dois responsáveis pela ala cuja exigência vinha de outros que sequer tínhamos contato.

Tempo
Outro fator que chama a atenção é o rigor com o tempo. A todo momento éramos lembrados do tempo que tínhamos para entrar e sair da Avenida.

Isto certamente nos levou a focar ainda mais no nosso movimento seguindo sempre o comando daqueles que estiveram conosco o tempo todo.

Seguir um líder, ser e estar líder de algo, ensaiar um hino e uma coreografia nos lembraram em muito momentos vividos juntos em outras ocasiões tão especiais quanto esta eu diria.

Que experiência magnífica. Disputamos o nosso lugar, e nos preparamos para a tarefa ( mais um deja' vu).

Os juízes e o julgamento.
O juiz pouco se importa com o quanto foi empenhado para aquele momento, pessoas que vieram de outras cidades, que voltaram de viajem mais cedo, que não estavam bem fisicamente, ou que tiveram qualquer outro problema que as tocasse de alguma forma, nada importava aos juízes.

Eles apenas focavam naquilo que fora combinado, "O combinado não é caro"...

Assim também acontece em nossa vida. Assumimos algo e tomamos uma tarefa, tudo mais que diz respeito a sua execução ou não, não interfere no julgamento ou interessa àquele que julga.

Quem julga, julga segundo aquilo que vê, e que foi combinado anteriormente ou não, e assim da mesma forma vemos isto acontecer em nosso dia a dia.

Tudo que vier a ser dito, algumas vezes serve apenas como justificativa pessoal e nada mais.

Algo mais que podemos refletir.

Responsabilidade e transferência.
Ficou claro também como transferimos ao outro a nossa responsabilidade muitas vezes, e como quase sempre o que o outro faz é apenas cumprir um papel.

Durante a semana que antecedeu os desfiles muitas fatos nos demonstraram como isto acontece e eu quero compartilhar agora com esta visão do todo.

Algumas pessoas ao retirarem suas fantasias não verificaram as mesmas e muitas coisas não saíram como o previsto, faltaram algumas peças, adereços, o tamanho não estava adequado, etc. Algo bem natural...

Mas algumas reações foram interessantes, muitas vezes é como se aqueles que estavam servindo de ponte entre o grupo e a escola tivessem errado de forma proposital.

O que é uma transferência.. quando transferimos ao outro sentimentos, pensamentos, sensações que não os pertencem, mais um ponto com o qual podemos refletir.

Espírito de grupo.
Ao entrarmos na avenida ficou claro o que é o verdadeiro espírito de grupo, onde todos se encontravam nivelados.

Talvez aqui caiba uma reflexão sobre o que é inclusão e exclusão, aquilo que inclui também exclui.

A fantasia faz isto com as pessoas, ao colocarmos uma fantasia igual a nossa em outra pessoa e ficarmos lado a lado... não importa a raça, partido ou credo... somos iguais e nos portamos como iguais.

De que forma aquilo que inclui também exclui, com as fantasias somos aceitos, sentimos que estamos inclusos em algo, porém sem, qual o time, escola, cargo, interessante.

Porque insistimos aqui fora em colocarmos fantasias diferentes nas pessoas, para sermos notados... e o grupo, por acaso não foi notado. Mais um ponto para reflexão...

O resultado...
0,25 (vinte e cinco décimos) este foi no balanço final aquilo que fez a diferença em termos de pontuação do 1o. para o 2o. e o 3o. colocado. Como avaliar tudo isto.

A escola subiu, nós desfilamos, e comprovamos in loco a operação de guerra que é reunir mais de mil pessoas vindas cada um de uma realidade e coloca-las num conjunto harmonioso em um espetaculo onde o todo somente pode ser percebido pelo espectador.

Uma demonstração clara do que é trabalhar com a diversidade e adversidade em favor do todo, que é o resultado final.

Talvez para quem tenha participado tenha sido somente um desfile, mas se pudermos abstrair estes pontos que coloquei aqui e mais um serie de percepções de cada um, um desfile é um grande exercício de liderança e de relacionamento.

União, força, coragem, criatividade, perseverança, superação, comprometimento e uma série de outros temas que foram observados e sentidos... No final... valeu muito....
J. Carlos Froes

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Não existe memória sem emoção...

Não existe memória sem emoção...
Muito interessante o posicionamento do português Antonio Damasio 65, um dos neurocientistas mais renomados da atualidade.

Ele trouxe uma nova luz sobre como a biologia da emoções estão relacionadas com a memória.


Segundo os seus estudos a emoção modula a forma como os dados e os acontecimentos são guardados na memória. Isto fica implícito no que diz respeito à memória para as pessoas e as características relacionadas a elas.


Afirma ainda que grande parte de nossas decisões é tomada de maneira mais ou menos automática e inconsciente. Sendo que este processo é guiado pelo valor que se dá às diversas experiências do passado.


Um exemplo que ele cita é: Se eu conheço uma pessoa que desperta boas emoções em mim, toda vez que eu a encontrar vou reviver uma memória que se divide em dois aspectos: o cognitivo (saber quem é a pessoa) e o emocional (é alguém de quem se gosta).

Tais aspectos guiam a forma como conduzimos a relação com os outros. Não há memória ou tomadas de decisão neutras, sem emoção. Hoje já se sabe até em que regiões do cérebro as emoções são processadas.


Isto se liga à forma como trabalhamos os nossos treinamentos, e o que discutimos a respeito dos padrões de comportamento. Se nossas memórias estão desatualizadas certamente as nossas decisões não serão as melhores.

Ao trabalharmos os processos de forma cognitiva e emocional estamos oferecendo a possibilidade de uma mudança em relação às novas tomadas de decisão. Isto é o que chamamos de ressignificar um fato.


No seu trabalho ele ainda faz uma diferenciação entre a forma como isto acontece conosco e os animais, e a principal distinção esta em nossa capacidade de ter uma autobiografia.


Reconhecemos nossa historia, a familia, os amigos e todos os relacionamentos que tivemos. Determinando assim nossa própria história. Os animais tem isto de forma muito limitada, sem a mesma riqueza de detalhes e abrangência.


Outro fator fundamental é a linguagem pela qual nos comunicamos, que faz um outro serviço importante, o de codificar as memórias não verbais numa forma verbal. Ele ainda destaca que estas características podem expandir enormemente tudo que somos capazes de memorizar.


Em relação à criatividade e a inventividade destaca que a força está na imaginação, que nada mais que a manipulação das imagens, que podem ser visuais, auditivas, táteis ou olfativas.


Essa manipulação esta profundamente relacionada com não só com a forma como a pessoa capta estas imagens mas como ela recupera aquelas que estão guardadas na memória.


Talvez uma parte interessante de seus estudos que nos oferece um grande aprendizado é sobre como a imaginação recupera estas imagens que foram gravadas em circuitos nervosos, onde com a ajuda das emoções foram organizadas de acordo com certas categorias.


Utilizar a emoção para manipular estes registros é uma forma de desenvolver novas soluções. Quero agora relacionar este ponto ao que desenvolvemos em nossos treinamentos especialmente no LT, que é a de oferecer a possibilidade de reorganizar estas memórias de forma diferente.


Em seus estudos é possível afirmar que os neurônios estão organizados em circuitos e comunicam-se por meio de reações eletroquímicas e que o padrão ou o desenho dos circuitos é o que permite a construção de todas as imagens. Isso vale tanto para o que se passa no mundo exterior – visões ou sons, por exemplo – como para imagens interiores, produzidas e transformadas por um estado emocional. São elas que constituem aquilo que chamamos de espírito humano.


Espero que este artigo tenha sido tão interessante a você quanto é para mim. No próximo quero relacionar o trabalho que fazemos com este artigo.

J. Carlos Froes

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Memórias e a Neurociência

Memórias e a Neurociência
Quero continuar nosso estudo sobre a memória, e como somos afetados a partir daquilo que é carregado através dela. No ultimo artigo citei uma reportagem publicada na Veja que fala sobre memória e gostaria de trazer agora duas observações que vem ao encontro daquilo que falamos neste mesmo artigo.
Um posicionamento é o do fisiologista Eric Kandel que recebeu o Prêmio Nobel em 2000 pelo seu trabalho de como a memória é formada e armazenada. Ao longo da entrevista concedida ele discorre sobre a memória e a questão da personalidade, na busca por onde se encontra o Ego, Superego e Id e o que acontece dentro dos neurônios durante o processo de memorização.
Segundo ele a neurociência procura desvendar as habilidades do cérebro humano, e que nesta caminhada ainda temos cerca de 100 anos até que seja possível desvendar totalmente o funcionamento deste órgão tão complexo. Segundo suas pesquisas não há um limite biológico para o volume de quantidade de memórias que o cérebro pode guardar, mas um limite para a quantidade que se pode processar em um determinado período e desta maneira se este limite de processamento é quebrado isto pode interferir na qualidade da codificação que é feita pelo cérebro. E segundo ele sendo assim não há memória.
Mas este pode ser um indicativo de que algumas informações podem estar de certa forma sendo acessadas de forma equivocada. Há ainda uma questão se resposta sobre a consciência, ou seja, para acessar determinadas lembranças precisamos usar a consciência e pouco se sabe sobre a natureza da atenção consciente, além do que é difícil dizer como as memórias sao modificadas ao longo da vida.
Veja ainda sobre a questão terapêutica o que ele tem a dizer:
A psicanálise está ameaçada pelas descobertas da neurociência?
Não. Psicanalistas e psicoterapeutas podem até se beneficiar com isso, mas terão de se adaptar.
Eles precisam se familiarizar com as novidades da neurociência. Já existem, por exemplo, estudiosos analisando imagens cerebrais de pessoas com distúrbios mentais, para detectar possíveis anormalidades e descobrir como elas são revertidas com a psicoterapia.
As evidências, até agora, são muito estimulantes. Obsessão-compulsão, depressão, neuroses com todos esses distúrbios já há estudos mostrando como a psicoterapia ou a psicanálise conseguem reverter, em alguns casos, anomalias cerebrais.
Os resultados são bons quando o terapeuta, além de tentar entender o que motiva o paciente a agir de determinada maneira, passa a incentivá-lo a mudar seu comportamento presente. Ou seja, faz um tratamento mais orientado para o aqui e agora.
Os estudos de neuroimagem mostram que esse é um método bastante eficiente para certos casos. Eric Kandel.
No próximo artigo quero trazer o segundo posicionamento a respeito da memória do português António Damásio, de 65 anos, considerado um dos neurocientistas mais respeitados da atualidade, falando sobre a forma como as emoções estão ligadas à memória.
Até o próximo
J. Carlos Froes