sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Pai...

Poderia encher esta folha com palavras bonitas e rebuscadas.
Colocar aqui rimas em estrofes cadenciadas por um ritmo que oferecesse uma sonoridade suave ou uma estética mais adequada. Talvez pudesse imaginar uma construção com as frases colocadas no papel de tal forma que surgisse uma figura ou quem sabe algo que sugerisse movimento...

Mas quero algo simples... Quero lembrar dos dias em que ele chegava cansado e ainda assim tinha um tempinho para mim... Naquela época eu não entendia... hoje sei o que é um dia de trabalho...
Do lanche naquele lugar em que parávamos aos sábados e domingos, hoje eu entendo porque ele sempre pedia o menor mesmo parecendo que estava com fome... hoje sei o custo de algo...
Da ida aos parques e de que quando ele voltava e estávamos cansados, ainda assim ele trocava de roupa e continuava a executar alguma tarefa em casa... apesar da minha crítica... hoje sei da urgência da vida...
Das vezes em que ele programava algo e ficava feliz com a simplicidade das suas sugestões e depois entristecia quando deixávamos sua idéia de lado...
De como ele ficava encantado com as coisas que para mim são hoje tão simples... e como eu entendi isto quando comprei uma TV nova com um controle cheio de botões...
Lembro de como ele sorria quando achávamos graça nas mesmas piadas, contadas há tantos anos... hoje vejo o quanto é difícil atualizar-se sobre qualquer coisa...
De como ele ficava rodando e não fazia nada quando estava doente, e seu olhar de terror em direção à minha mãe...
De como ele era desajeitado com coisas tão simples... mas hoje vejo o quanto ele era tão bom em outras coisas...
Como ele ficava triste quando discutia com sua mulher e eu queria puni-lo por isto... hoje entendo que não sabemos nada mesmo...
Hoje quero apenas lembrar... de momentos que para mim eram incompreensíveis e que hoje fazem parte da minha realidade...
Na história dele não existem rimas e o ritmo é próprio; não existe muita poesia, só realidade... muitas vezes sem uma estética ou construção rebuscada... a verdade é que me parece tudo muito simples.
Sua história tem uma estética própria... e hoje eu entendo...
E quanto mais eu posso olhar para esta história do jeito que ela é mais eu me aproximo de quem ele é, foi e será... e assim escrevo e aceito a minha própria história...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os pais são culpados que não tem culpa...

Os pais são culpados que não tem culpa...

Há anos venho proferindo esta frase dentro dos treinamentos que faço, e posso dizer com certeza que num primeiro contato às vezes o seu efeito é pequeno.
Porém na medida em que ela vai sendo repetida e vivida dentro de cada um seu efeito pode ser transformador.
Como seres humanos acabamos por criar conflitos que muitas vezes podem se tornar enormes ao longo do tempo.

Tenho verificado que na maioria das vezes estes conflitos acabam nascendo a partir daquilo que tomamos não como real, mas como ideal.

Às vezes este ideal talvez nem seja nosso, por vezes se expressando mais como um fardo do que como algo bom.

Esta é uma situação muito comum entre pais e filhos.
Nem sempre os nossos pais serão aqueles que projetamos e muito menos os nossos filhos e nem assim eles deixam de ser nossos pais e tampouco nós de sermos seus filhos.
Existem inúmeras exigências que vem da nossa própria família e as vezes nos submetemos a elas apenas pelo medo da exclusão.

Quantos filhos seguem a profissão, religião, ou até mesmo uma forma de pensar, sentir e viver dos seus pais apenas por este medo.

O medo de não pertencer acaba por fazer com que os caminhos seguidos nem sempre sejam aqueles que gostaríamos ou sentíssemos necessários.

Se isto acontece com os filhos em relação aos seus pais, sem duvida haverá um dia em que este caminho se tornara insustentável.

Ao mesmo tempo acontece um movimento por parte dos filhos que gera um desagravo em relação aos seus pais.

Todas as pessoas acabam por desenvolver o seu próprio senso critico, algo que acontece desde a nossa primeira infância e que ao mesmo tempo que é necessário e importante acaba sendo também extremamente cruel em relação não somente ao mundo e às pessoas que estão ao nosso redor mas principalmente os nossos pais.

O olhar para os pais se fragmenta, de um lado o olhar respeitoso que está relacionado ao sagrado na relação entre pais e filhos do outro aquele extremamente moral que julga a tudo e a todos segundo aquilo que seria importante para cada um de nós.

Este olhar moralista, entendendo aqui moral sobre um ponto de vista mais amplo, julga o ato de todas as pessoas as pessoas segundo os conceitos do certo e errado, belo e feio, bom e mau, e ninguém escapa, inclusive os nossos pais.
Temos além destes dois tipos de olhar um muitas vezes observado e que acaba sendo mais severo conosco e com o pai e a mãe.

O da obrigação, sustentado pelo respeito, que aqui surge mais como uma obrigação, contaminado pela moral extremada, fruto da nossa forma de olhar o mundo.

Desta forma este olhar singular acaba por gerar um distanciamento, pois de alguma maneira queremos deles algo que eles não podem nos oferecer.

Aquilo que está ligado ao que entendemos como ideal, que de certa forma exigimos dos outros acaba então por gerar uma pressão e uma tensão enorme em direção aos nossos pais.

O que às vezes não se entende é que eles já estão dando, assim como nós tudo aquilo que podem dar.

E nesta tentativa de ter do outro aquilo que ele não pode dar nos frustramos e sofremos, e este fenômeno acontece com qualquer pessoa a nossa volta, mas tem um impacto muito maior quando vai em direção a eles.

O vinculo acaba assim por potencializar a dor e o sofrimento, gerando seqüelas que um dia deverão de alguma forma serem levadas em conta, vistas, e quem sabe trabalhadas.

Este movimento acaba por influenciar não apenas o nosso relacionamento com eles (nossos pais), mas o de toda a família.

É muito comum que nesta hora se quebre a ordem e a hierarquia dentro da família, onde cada uma começa a assumir um lugar que não é o seu.

Basta que possamos agora imaginar um filho que acha (olhar distorcido) que seu pai ou mãe não está fazendo o que deveria, procurando então assumir uma postura de ação sobre cada um em separado e ou em conjunto.

Aqui cabe bem uma outra frase que percebo cada vez mais verdadeira:
“Se você tentar ocupar um lugar que não é o seu... você nunca será o outro e tampouco a sombra de quem você poderia ser...”

Imagine viver em uma condição onde você precisa provar a todo custo a alguém (consciente ou inconscientemente) que há outra saída que não a que vem sendo utilizada.

Dor, frustração e acima de tudo uma sensação de vazio.

Um processo que eu acho maravilhoso e que pode nos auxiliar muito neste sentido é o das constelações familiares, se quiser saber mais entre no link, e da próxima vez que você olhar para os seus pais leve isto em consideração.

José Carlos O. Froes