terça-feira, 5 de julho de 2011

Começo, meio e fim...

Começo, meio e fim...

Pensar na vida com algo puramente linear é como pensar em uma biblioteca onde as informações contidas devem seguir necessariamente uma ordem de prioridade.

O que vem antes é mais ou menos importante do que vem depois? O hoje é mais importante do que o ontem ou é apenas uma parte de algo que ajuda a escrever o amanhã.

O que será escrito amanhã terá mais relevância do que aquilo que foi ditado no dia anterior?

Percebemos que na medida em que as questões se sucedem mais duvidas vão surgindo e a única certeza que temos é a de que tudo de alguma forma está ligado.

Minha carreira teve o seu inicio na engenharia e como bom mecânico eu sei que o modelo do veiculo mais avançado que hoje conhecemos tem suas raízes nos antigos modelos a vapor.

Não haveria tanta tecnologia hoje se não acumulássemos conhecimento e experiência, e é desta forma que entendo que em nossa trajetória pessoal tudo conta.

O ontem e o hoje certamente são determinantes tanto para o fracasso quanto para o sucesso do que buscamos encontrar.

Mas como escrever o hoje e aproveitar o que aprendemos ontem para um amanhã melhor se não nos sentimos bem para isto ou mesmo que não tenhamos direito.

Encontraremos muitos relatos sobre isto principalmente de pessoas que perderam o animo, palavra que na sua raiz tem a ver com vontade, intenção, animus, espírito, presença de espírito.

Percebemos então que todo este movimento de escrever um novo amanhã tem a ver com algo que vem de dentro.

Esta questão nos coloca subitamente em uma duvida sobre: Para que?

Sim, para que? Para que escrever um bom amanhã? Para que trabalhar por um futuro melhor? E outras questões rapidamente se emendam a estas: Para que tudo isto? Para que?
E por fim uma questão ainda maior: Para que serve a vida?

Sim, pois desde que o homem é homem esta talvez seja uma das grandes questões que ficam sempre sem uma resposta que seja unanimamente correta ou aceita.

Se colocarmos a vida em uma questão puramente mecanicista sua graça está apenas no funcionamento do próprio corpo.

Ou seja, levantar comer e trabalhar, comer novamente no meio do dia e trabalhar e ao final do dia ao encerrar as atividades se preparar para comer novamente, descansar e voltar ao mesmo ciclo no dia seguinte.

Não se discute a beleza da mecânica do corpo, tampouco sua perfeição em transformar alimento em energia, ou até mesmo a recomposição da matéria dia após dia.

O que sempre se questiona é o fim, de forma que todo o mecanismo seja colocado de lado.

Como bom mecânico entendo que por mais simples que seja um organismo ou uma criação, ele serve a um fim.

E qual seria então o nosso fim? Para que serviríamos afinal?

Não há nenhuma resposta lógica aqui fora, qualquer resposta que venha a ser dada é de fato a expressão de um conjunto de crenças e valores que não pode e nem deve ser desprezada, visto que esta resposta mudará com o tempo, mas é certo que ela nasce dentro e nunca fora.

O amor e a vontade de viver são inerentes ao ser humano, é algo forte desde que nascemos e ligado principalmente ao nosso instinto de preservação.

Quando se deixa de lado tudo isto que é importante ou o que nos preserva, este é um sinal de que estamos doentes e, portanto necessário que olhemos para o momento onde isto deixa de atuar.

Aqui o ontem se torna determinante para entendermos o que se transformou, porque e para que.

Não é possível acreditar que alguém deixe de lado coisas importantes como estas, ou faça isto apenas como um movimento de prazer, talvez este seja acima de tudo um grito silencioso de dor, de alguém que busca uma preservação ilusória.

A investigação passa então de necessária à primordial, de forma que por vezes apenas o reconhecimento do fato gerador já seja suficiente para que se possa tomar novamente a vida como algo bom e que mereça ser valorizada e preservada.

Os mecanismos para isto são os mais variados, desde que ofereçam esta possibilidade àquele que as busca.

A vida passa então a ser mais do que um movimento mecânico apenas, ou seja, retomam-se assim todos os valores ligados a ela, e que por gerações tem estado presentes na humanidade nos colocando em pé de igualdade e lado a lado com o nosso semelhante.

Desta maneira o ontem, o hoje e o amanhã se alinham de uma forma diferente da qual estamos acostumados a olhar para o mundo, não de uma forma linear, mas talvez como em um holograma, uma espécie de registro vivo que atua o tempo todo e em todas as direções.

José Carlos Froes

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