segunda-feira, 27 de maio de 2013

Reconhecer, elaborar e integrar... assim nós crescemos um pouco mais...



Passar pela dor....


Desde que comecei a trabalhar com pessoas, tenho me deparado com algumas frases que me chamam muito a atenção:
“Meu passado está morto e enterrado”
“Para isto eu não olho mais”
“Quero deixar meu passado lá... ele não tem lugar aqui”

Confesso que em alguns momentos lá atrás eu mesmo utilizei estas frases, mas a cada dia que passa, mais me convenço que de alguma forma elas são apenas uma maneira de nos mantermos conectados àquilo que não queremos mais.

Sim, pois com certeza de uma forma ou outra aquilo que ficou para trás permanecerá sempre atuando.

Jung (medico e psiquiatra suíço) em algumas de suas celebres frases reforça esta tese:
“O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o.”
“Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos”
“Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino.”


Poderia também citar algumas frases de Freud (médico austríaco criador da psicanálise):
“É escusado sonhar que se bebe; quando a sede aperta, é preciso acordar para beber.”
“Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que
lutaste.”

Veja que não é de hoje e nem minha apenas a visão de que quando passamos por nossas dores podemos aprender com elas.

Um questionamento que sempre vem à tona quando penso nas dores pelas quais passamos é:

Como podemos enterrar uma parte de nossa história?

 Ao fazermos isto não estaremos enterrando também uma parte daquilo que foi útil e produtivo...?
Nossa vida desde o momento em que nascemos se pauta pelas polaridades.


São elas que nos conduzem a uma forma de ser e pensar.


Portanto fica claro que só podemos reconhecer a luz quando passamos pelas sombras e que tão natural quanto o ar que respiramos serão as dores pelas quais passamos por esta vida, e uma tentativa de nos mantermos distantes delas é um movimento de pura ilusão.


Mas assim como um livro que nos recusamos a ler e mantemos trancados na gaveta os acontecimentos passados nunca serão completamente reconhecidos, elaborados e integrados enquanto não nos dispusermos a olha-los com clareza.


Seria ótimo que tivéssemos a possibilidade de uma borracha mágica que apagasse as lembranças ruins e mantivesse apenas as boas, mas veja que aqui o que temos é apenas um pensamento mágico, que nos liberta de forma completamente ilusória.

Sempre pergunto às pessoas com as quais trabalho a diferença entre ilusão e esperança, e as respostas muitas vezes convergem para um ponto onde percebemos que aquilo que os diferencia esta contido em uma única palavra: ação... 


Sem ação o que temos é apenas ilusão, e isto não nos liberta, pelo contrario apenas cria elementos que ao longo do tempo geram mais e mais sentimentos negativos, contribuindo para a o estabelecimento de padrões de comportamento negativos e uma baixa considerável em nossa autoestima e autoimagem.


Pode-se até pensar que então devemos permanecer sofrendo?

Não... Mas saber que em algum momento aquilo que não foi visto e trabalhado um dia volta à tona.


Outro fator importante é saber que o não para nosso cérebro nada mais é do que um estímulo para que permaneçamos olhando para algo, ou seja, é como quando alguém diz: Eu não quero olhar para isto.


Quando esta frase vem é sinal de que já estamos olhando para o fato.
Pode nos libertar de fato?  E de que?

Liberdade é algo está  ligado a uma sensação.... e quando entendemos como buscar esta sensação podemos buscá-la quando quisermos.
Desta forma podemos nos libertar de crenças e valores ultrapassados.

Uma metáfora que as vezes utilizo em meus treinamentos:
 
Um homem um dia estava no enterro de seu próprio filho e não conseguia derrubar uma lágrima sequer.
Todos os que estavam a sua volta olhavam para ele com extrema reserva, presos num julgamento enorme.
“Que homem frio”;  “Sem coração”; “Insensível”....
Agora imagine que pudéssemos voltar o filme de sua vida e voltar a uma época distante, lá na sua infância... quando nos deparamos com a seguinte cena...
Ele pequeno chorando e fazendo birra... (crianças fazem birra!)
Seu pai se aproxima, dá-lhe uma palmada e diz:
“Menino pare de chorar, você não vê que cada vez que você chora sua mãe morre um pouquinho..”
Ele para de chorar e segue sua vida desta maneira.
Quantas oportunidades este homem não perdeu? Por quantas vezes foi julgado?
E assim chegamos ao fatídico dia do enterro de seu filho...
Uma mensagem ficara gravada no seu intimo:
“Cada vez que você chora, você mata alguém que ama um pouquinho...”
Como chorar a morte de alguém, sem que alguém próximo e amado morra também? Difícil.
Mas imagine que agora ele saiba disto... Ai sim ele pode se libertar...
Entendendo que naquele momento a única coisa que seu pai queria era proteger sua mãe. Que tudo se tratava de amor.
Saber disto não retira nada do que foi dito, nem tampouco a dor da palmada, mas oferece um conhecimento sobre sua própria historia que é libertador.

A possibilidade de passarmos pelo trauma ou dor, isto sim pode ser libertador.


Portanto o importante é a disposição de olhar para as nossas questões mais difíceis e passar por elas, como já disse antes, reconhecer, elaborar e integrar, todo o conhecimento.

José Carlos Froes

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